
Mal começa o ano novo, e quem trabalha com Comércio Exterior por vezes já tem que se preocupar com OUTRA virada: é o Ano Novo Chinês que chega em toda a sua glória, parando as produções nas fábricas e interrompendo fluxos logísticos na Ásia.
Esse “réveillon” não tem uma data específica: como a China (e também outros países asiáticos) segue um calendário que prioriza as fases da lua – que não batem exatamente com o calendário gregoriano que seguimos aqui no ocidente – a cada ano, o Ano Novo Chinês cai em uma data diferente.
Em 2022, ele cai no dia 1º de fevereiro e dá início ao Ano do Tigre no horóscopo local. Só essas últimas frases já dão uma ideia do abismo cultural que separa o Brasil de seu maior parceiro comercial e, por essas e outras, é tão importante saber do quê se trata esse feriado – e o porquê dele trazer MUITA dor de cabeça para quem trabalha com importação.
Aliás, ao que tudo indica, o feriado deste ano tem tudo para ser mais complexo do que o costume. Quem aí gosta de caos?

Haja preparação!
As celebrações do Ano Novo Chinês duram cerca de sete dias. Em 2022, considere o intervalo entre os dias 31 de janeiro e 6 de fevereiro. Nesse período, fábricas e serviços em todo o país fecham as portas. Diversas linhas de produção interrompem as atividades.
Trabalhadores aproveitam a folga estendida para encontrar seus familiares e celebrar o novo ciclo. Como muita gente trabalha longe e a China é um país ENORME, acontece o que é conhecido como “o maior deslocamento de pessoas do planeta“.
Essa mudança abrupta de hábitos causa disrupções no sistema logístico; como consequência, vários armadores anunciam blank sailings, cancelando as viagens em diversos itinerários que passam pelos principais portos da China. Em contextos normais pré-pandêmicos, já era um grande efeito dominó que causava uma boa dor de cabeça para quem não estivesse preparado.
“Além de ser um feriado importante para os chineses, tal como é nosso Ano Novo, é o tempo de recarregar as energias. Muitas empresas chinesas também aproveitam essa pausa para reestruturar o planejamento e o estoque.”
As aspas são de Jaqueline Volpe, especialista em agenciamento de cargas, que explicou ao Container Diário sobre como esse feriado pode ser impactante aos importadores que costumam deixar para planejar seus processos em cima da hora:
O período pré-feriado é intenso e o atraso pode gerar o não-embarque, visto que não haverá caminhões disponíveis para carregar sua carga, por exemplo. E, como em tudo na logistica nós temos um “timing” para fazer e preencher e aprovar e enviar, qualquer coisa fora desse deadline resulta em um amendment fee, que pode ser um custo de correção não programado ao importador.
Vale lembrar que, para os trabalhadores do Comex, é nesse período pré-feriado que nós trabalhamos 24 horas por dia! O pós-feriado pode acarretar o atraso na produção dos itens, visto que o pessoal volta gradativamente e há histórico de muita dispersão de trabalhadores nas fábricas.
Pois é. Não é só o momento da parada das fábricas. A volta da produção ao ritmo anterior também traz suas implicações.

A Priscila Cespede, da Cespede Consultoria, também nos contou sobre o drama que o Ano Novo Chinês traz para a logística internacional:
Antes do fim do ano, a gente já costuma ter atrasos “normais” na China. Alguns dias antes, eles já começam a diminuir a velocidade de produção, de embarque, de atendimento… e a gente já sabe que vai ter muitos e muitos atrasos.
Quando as fábricas retomam a produção, elas precisam despachar todo aquele monte de mercadorias que ficaram paradas durante o feriado. Então os fretes podem até ficar mais baratos nesse período. Quinze ou vinte dias após a volta do feriado, quando as fábricas conseguem se reorganizar e enviar os pedidos normalmente, os fretes começam a subir novamente.
Fica meio bagunçado. E é uma bagunça anunciada, porque não é porque os armadores abaixaram os preços que eles vão conseguir embarcar tudo a tempo. E, agora, com vários casos de covid já diagnosticados nos terminais de Ningbo, já tem vários navios parados por lá com a tripulação em isolamento.
Ah, é! Sabia que eu estava esquecendo de algo. Tem um tal de coronavírus aí no meio dessa história.
…e 2022, vem como???
Resumo ultra rápido dos últimos dois anos: as restrições de circulação no início da pandemia causaram um enorme aumento no consumo global; esse aumento levou a um extremo aquecimento da indústria logística internacional que, somado a maluquices como o bloqueio do Canal de Suez e uma infinidade de outros imprevistos, resultaram em armadores cobrando fretes altíssimos mesmo em serviços caoticamente prestados, com atrasos e filas que deixam os importadores com os cabelos em pé. Isso para os que ainda têm algum cabelo, mesmo com o dólar constantemente acima dos cinco reais.

A China passou a adotar uma estratégia radical no combate à covid, o que fez com que um dos terminais do porto de Ningbo – o mais movimentado do mundo – interrompesse por completo as atividades durante vários dias em agosto, depois que um único trabalhador testou positivo para corona.
E, nas últimas semanas, novos casos de covid voltaram a impactar negativamente a logística em Ningbo.
Ou seja: o feriado deste ano tem tudo para ser um caldeirão borbulhante de estresse, preços altos e pressão por todos os lados – com o adicional de que as Olimpíadas de Inverno de Beijing, com início marcado para 4 de fevereiro (já com seus dramas geopolíticos à parte), podem adicionar ainda mais algumas restrições logísticas nesse cenário, embora nada ainda definido, segundo a DSV.
Se o Ano Novo Chinês já costuma demandar muito planejamento e paciência de quem trabalha na área, 2022 vai exigir ainda mais. Como desabafou a Priscila, depois de comentar sobre a tal bagunça anunciada: “Não vai ser um feriado muito fácil esse, não, hein?”
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P.S: Em publicações estrangeiras e e-mails, é possível encontrar Ano Novo Chinês apenas como a sigla CNY – do inglês Chinese New Year.
P.S.2: No entanto, cuidado para não confundir com a sigla internacional da moeda chinesa, o yuan, que também atende por CNY.
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Disclaimer: Normalmente, coloco as fontes das informações em uma lista no final de cada post. Para esse artigo, como são muitas fontes diferentes, coloquei-as em links no meio do texto, próximo aos assuntos de interesse.
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***Ainda não tá seguindo O Container Diário no LinkedIn??? E no Instagram???***
Não sabia sobre isso. Adorei a matéria!
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Uma loucura mesmo, Alessandro! Muito obrigado pelo comentário e pela visita!
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Republicou isso em REBLOGADOR.
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Ter acesso a estas informações, possibilita estarmos preparados para administrarmos as diversas situações de conflitos decorrentes dos fatores identificados e seus desdobramentos.
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É exatamente isso que tentamos fazer com esse post! 🙂
Obrigado pela visita e pelo comentário, Thomaz!
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